A gangorra das vaidades

Se acertar a vida toda e um dia cometer um deslize, será lembrado por ele o resto de sua vida.

Se tiver uma vida regada a erros e passar a fazer coisas certas, será referenciado de maneira positiva pelas pessoas.

É justo?

Por que um erro tem peso muito maior que uma vida repleta deles?

Por que o tratamento diferente?


A obrigação da retidão é uma hipocrisia da sociedade.

Se todos tivessem a chance de ser invisíveis ou fazer algo sem serem percebidos, fariam todas as coisas que supostamente e publicamente abominam.

Quase sempre o dedo que está sendo apontado pra você é tão podre quanto as palavras que o dono do imponente dedo em riste está proferindo.

Faça o que eu digo, não faça o que eu mesmo faria se pudesse.

A coragem de alguém para fazer algo que outros não têm parece ser um tapa na pretensa sobriedade.


A vida como ela é, diria Nelson Rodrigues.

Ou melhor, a vida como eu gostaria que ela fosse, diriam tais pessoas.


Amigos são conhecidos como aqueles que estão ao nosso lado em todos os momentos.

Tal quais as palavras proferidas pelo padre aos noivos no grande dia.

- Na alegria e na tristeza. Na riqueza e na pobreza. Na saúde e na doença.

Dos amigos esperamos nada menos que isso.

Diz-se que parentes não são escolhidos e amigos sim, o que faz deles serem especiais em nossas vidas.

Pena que só sabemos quem de fato é amigo quando estamos precisando deles.

E na maioria das vezes nos surpreendemos negativamente.


E se você é celebridade isso é ainda pior.

A conveniência e o interesse social e financeiro estão acima de tudo.


Estamos vivendo dias de jogos olímpicos, em Londres.

E como sempre foi e sempre será, teremos muitos heróis e muitos vilões.

Os heróis sofrerão um acesso imediato e incomum de pessoas tentando surfar a mesma onda rumo ao estrelato.

Ao passo que os vilões, de quem se esperava muito, serão motivos de chacota e serão tratados como personas non gratas.


Esse primeiro final de semana de jogos olímpicos marcou dois grandes exemplos tupiniquins.

Dois opostos extremos.


Sarah Menezes não existia no cenário nacional até o último sábado, 28/07/2012.


Com apenas 22 anos a judoca Piauiense se tornou a segunda brasileira campeã olímpica individual da história.

Sem grandes patrocínios, sem atenção diferenciada do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), sem pompa e sem expectativa.

Com essa receita repleta de itens que contribuiriam logicamente para um fraco resultado, ela se superou e conquistou a inesperada medalha de ouro.

Parabéns menina!

E cuidado com os novos melhores amigos de infância que irão surgir em sua vida.


Carminha e Max, depois dessa virada em Avenida Brasil, poderão tentar se aproveitar de você nesse seu momento iluminado.


O outro personagem é repetente.


- Estou triste. Mais uma vez venho pra cá e não consigo. Não sei o que acontece. Talvez eu não mereça, não sei. Talvez eu me esforce pouco, eu não sei o que eu faço errado, mas eu sei que mais uma vez eu caí. É muito ruim. Porque eu criei uma expectativa em cima disso.

Em Pequim, Diego Hipólito era garantia de medalha dourada para a delegação brasileira e falhou, caindo de nádegas ao solo.

Quatro anos depois, mais maduro e com o aprendizado do fracasso de 2008 na bagagem, ele foi para Londres novamente como esperança de ouro.

A Revista Veja divulgou uma lista de esperanças olímpicas, e Diego era uma das apostas.

Eis que novamente ele falhou.


A mesma mídia que eleva o atleta no sucesso irá crucificá-lo no fracasso.


Durante os próximos dias teremos outros personagens dessa gangorra sendo destacados.

Que eles tenham cuidado aos pisar no campo mimado desse volúvel playground.

Nem tudo é o que se vende como tal.


No final das contas nossa família e os amigos de verdade  irão ficar ao seu lado, não importa a cor da medalha ou a marca do seu carro.


As garotas do Bataclan, desde que bem recompensadas.




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